Coração valente

Crônicas

O amor


Não, eu não vou mais falar de amor, quero escrever sobre sentimentos possíveis, sobre a vida, o nosso bem maior. Compreendo que sua linguagem não é a mesma para com todos, ela é mutável, degenerativa, diferente da nossa. Os seus sinônimos, afeição, afeto, amizade, apego, dedicação, inclinação, ternura e idolatria diferem de cada situação e independente do seu resultado a consequência, muitas vezes é a entrega, a decepção.
            É muito fácil fazer juras e declarações, o que se torna difícil é leva-las por toda uma vida, carregá-las como fardo pesado em que a qualquer momento pode cair. Mas quem não quer senti-lo, provar da dependência amarga que tem seu sabor. Eu me lembro das histórias dos contos de fadas que sempre terminavam em “foram felizes para sempre”, e me perguntava o que realmente acontecia depois daquele intrépido final.
            Desculpem-me novamente tocar no assunto, mas quem não ainda não o sentiu é verdadeiramente um ser inanimado, sem sentimentos e carente do que há de melhor e pior na vida. Peço que não me entendam mal, não sou contra o amor, apenas me debato nos seus resultados.
            Há quem diga que o amor é fogo que arde sem se ver, mas como esse fogo não irá queimá-lo? Será que você esta sendo consumido e não vê? Qual o fogo que não queima? Que não deixas consequências e no seu final sobre apenas cinzas? Uma coisa é certa, o amor é cego, é deficiente de um sentimento que ainda não foi inventado, acompanhe-o. Também dizem que ele é um contentamento descontente, não entendo que a alegria, a exultação, a jovialidade, o júbilo, todos sinônimos de contente seja acompanhado de um prefixo que só diminui a felicidade em si.
            Amar virou moda, classificou-se como um simples ato de gostar, de querer. Não se tem mais aquele medo de pronunciá-lo, sabendo que só se ama uma pessoa na vida. Ainda acham que amar é ter posse daquilo que não é seu, tratando a pessoa “amada” como uma figurinha, que quando repetida, trocada. Esquecem que amar também é perder, é viver sabendo que nunca vai tê-lo, mas consciente que você lutou com todas as forças e recursos possíveis. Se um amor não deu certo esteja feliz e orgulhoso em dizer - eu verdadeiramente amei.
Fernando Medeiros Filho









Ode ao português

Lembro-me bem dos tempos de criança, a escola, o parquinho e minha casa, momentos inesquecíveis quando a professora pegava o seu giz que até então era desconhecido para mim. Em certos momentos passeava na minha mente todas aquelas palavras, sílabas, frases, enfim, tudo que envolvia o português. Tinha muita gente na sala, brancos, negros, pardos e amarelos, todos em harmonia num local insubstituível que foi a escola.
Mas o fascínio pelo português não me saia da memória. A sua gama de palavras para expressar um só objeto. O que mais me chamava atenção era forma com que eu podia manipular as palavras e dizer a todos que eu podia, que eu queria. No português havia figuras na sua linguagem que todos odiavam e a língua culta com que eu xingava as pessoas.
Uma coisa me intrigava, era ela, a matemática, tentando roubar o espaço que eu e o português tínhamos construído. A complicada sempre ficava ao lado dele, envolvendo a razão em nosso meio. O amor por algo não pode ter valor exato, nem tão pouco criar uma expressão de frustações. Graças a Deus que tinha a borracha, amiga para todas as horas. Não tinha o menor medo e a usava em qualquer ocasião, tudo para tentar separar ele dela.
Um dia quando eu chego à escola me desespero, converso com a professora e ela me deixa mais preocupado ainda dizendo que o português tinha uma ligação com a matemática e que um não podia viver sem o outro.
Passam-se os anos e chego a uma conclusão, ele não foi feito para mim, percebi isso quando cheguei até ele e me declarei dizendo que era o homem da minha vida e podia morrer se não tivesse o teu amor. De nada adiantou. A matemática acabou casando-se com o português e tendo vários filhos.
Pois é... Ele não era o meu destino.